Parte III: Este artigo é constituído por V partes.
A dinâmica entre o Governo e o Banco Central dos Estados Unidos opera da seguinte forma: o poder político designa o presidente do Banco Central, o qual, durante o seu mandato, goza de autonomia. O Federal Reserve System (FED), o banco central americano, tem no seu mandato a tarefa dupla de manter a estabilidade de preços e maximizar a criação de emprego, ou seja, tem de manter os preços estáveis e maximizar a geração de empregos.
Para fomentar a geração de empregos, o FED implementa medidas de estímulo económico, o que geralmente envolve a redução das taxas de juros, facilitando o acesso ao crédito e incentivando o investimento (DINHEIRO FÁCIL). Esta política expansionista impulsiona a atividade económica, contudo, essa expansão prossegue até gerar pressões inflacionárias.
Nesse momento, torna-se necessário encarecer o custo do dinheiro, através do aumento das taxas de juros. Esta medida dificulta a obtenção de empréstimos, desincentiva o investimento, estimula a poupança e pode levar as empresas a reduzir o seu quadro de pessoal (despedimentos), resultando numa contração da economia e no aumento do desemprego. Perante este cenário, o FED é então confrontado com a necessidade de implementar novas medidas de estímulo económico.
Este ciclo de estímulo e contenção prossegue até que um evento de grande magnitude ocorra. Esta dinâmica já se manifestou, notavelmente, em pelo menos duas ocasiões. Uma delas foi a crise de 2008, desencadeada pelo colapso do setor imobiliário americano, o chamado “Subprime”, cujos efeitos se propagaram globalmente, afetando a Europa e a Ásia. Na tentativa de mitigar a crise, a taxa de juros foi reduzida a 0%. Contudo, esta medida revelou-se insuficiente, levando o FED a recorrer à emissão de moeda adicional.
É importante notar que, tipicamente, a emissão de moeda pelo FED não se traduz na distribuição direta de dinheiro ao público. Em vez disso, esses fundos são utilizados para a aquisição de títulos da dívida pública americana. No entanto, em 2008, o FED adotou uma abordagem diferente: efetuou a compra direta de títulos hipotecários de instituições financeiras, numa ação destinada a prevenir a sua insolvência.
Este episódio marcou a primeira ronda de Quantitative Easing (QE) em 2008. O FED nunca havia adquirido títulos hipotecários anteriormente. Nesta primeira fase, adquiriu cerca de 25% de todos os títulos hipotecários existentes. A expectativa do FED era que os bancos retivessem esses fundos e concedessem empréstimos à população, estimulando assim a atividade económica.
Contrariamente a essa expectativa, os bancos utilizaram os recursos obtidos para adquirir os seus próprios ativos, problemáticos, no mercado. A lógica subjacente era que a compra de títulos hipotecários pelo FED geraria um aumento na sua procura, elevando consequentemente os seus preços. Qual foi a resposta do FED para mitigar a repetição deste cenário? Não foram implementadas novas leis para o impedir. A solução adotada consistiu simplesmente na emissão de mais milhões de dólares, dando início à segunda ronda de QE.
O Quantitative Easing (QE) pode ser ilustrado pela analogia de uma pirâmide de taças de champanhe, onde uma garrafa de champanhe representa o FED. O champanhe vertido na taça do topo (os bancos primários) transborda para as taças do nível inferior (outras instituições financeiras) e assim sucessivamente, até alcançar a base da pirâmide (a população). O champanhe simboliza o dinheiro que se pretende que circule por toda a economia.
Em termos práticos, a liquidez injetada através do Q.E., acabou por concentrar-se nos primeiros níveis do sistema financeiro. As instituições que receberam inicialmente esses fundos não os canalizaram de forma significativa para a restante economia. Consequentemente, o dinheiro recém-impresso pelo FED beneficiou primordialmente essas entidades, impulsionando o crescimento das suas fortunas, enquanto a população na base da pirâmide continuou a enfrentar dificuldades económicas e elevados níveis de endividamento.
Um exemplo ilustrativo da utilização desses fundos por grandes corporações é o caso da GE (General Electric). A gigante americana do setor elétrico obteve um empréstimo de 50 mil milhões de dólares a uma taxa de juros nula. Em vez de investir na expansão das suas operações ou na criação de novos empregos, a empresa optou por utilizar esses recursos para recomprar as suas próprias ações.
Esta manobra financeira elevou exponencialmente o valor das ações da GE, gerando lucros substanciais para os acionistas, entre os quais se destaca a Black Rock como um dos maiores. Assim, a valorização da empresa não resultou de um aumento da produtividade, mas sim de uma estratégia financeira legal que contribuiu para o aumento da concentração de riqueza.
Contudo, a questão fundamental permanece: esta abordagem resolveu os problemas financeiros da economia? A resposta é negativa. O endividamento da população continuou a aumentar, com indivíduos a recorrerem a sucessivas hipotecas. A disponibilização de “dinheiro fácil” não se revelou uma solução eficaz para os problemas subjacentes.
Se os eventos descritos até agora suscitam incredulidade face à aparente magnitude dos erros cometidos por entidades teoricamente detentoras de elevado conhecimento técnico, o cenário da pandemia de COVID-19, a ser abordado no próximo artigo, revela uma dimensão ainda mais significativa dos desafios económicos e financeiros globais. O que presenciamos até agora pode ser considerado apenas uma pequena amostra em comparação com o impacto da pandemia.
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